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segunda-feira, 19 de abril de 2010

CRACK, A EPIDEMIA DO NOVO MILÊNIO


Jovens relatam a dura batalha contra o crack. Adolescentes internados contam como tiveram o primeiro contato com a droga.

Por Rodrigo Stüpp (Diário Catarinense)

Entre os aparelhos de som e TV, os sofás de courino preto e os beliches da casa com cerca elétrica, está a fissura pelo inimigo. O crack — e também a sua falta — perturba 19 dos 20 adolescentes internados no Centro Especial de Proteção ao Adolescente (Cepad), no bairro Costa e Silva, em Joinville. Eles são monitorados por terapeutas, psiquiatras e psicólogos. É a luta diária contra o desejo quase sem fim de consumir mais e mais pedra.

— Se sair, pode crer que vou atrás de crack. Eu sei que não devo, mas a vontade é doida — diz um rapaz de 17 anos.

O Cepad é ligado à ONG Associação para Recuperação de Alcooólatras e Toxicômanos (Aprat). É mantido com dinheiro da Prefeitura. A casa tem apenas sete meses, mas já serve de referência e termômetro para o boom do consumo da pedra na cidade.

— De dez anos para cá, é avassalador o crescimento da pedra. A cocaína deixou de ser elitizada. O crack atinge a todas as classes, e ataca cada vez mais cedo — diz Wagner Mansonelli. Ele é terapeuta, especialista em dependência química e coordenador da casa.

Cedo, como no caso de um menino franzino de 11 anos internado na casa. Foi preciso autorização judicial para interná-lo. Estava imundo, faminto, quase sem roupas. Foi levado por agentes sociais. A família praticamente desistiu dele. É assim que a maioria chega. Com oito, dez, 12 quilos abaixo do peso ideal. Nervosos, mais respondões que o normal. E quase sempre rebeldes.

Nessa terça-feira, uma discussão terminou com vidros da janela do quarto das meninas quebrados. Foram substituídos por papel branco. Uma ou duas semanas depois, há avanços importantes. Costuma melhorar a sociabilidade. Regras, limites e carinho também ajudam. Mas a fissura faz surgir planos de fugas, que não são tão incomuns assim. Na rua, bastam alguns minutos para uma recaída.

— Eu arrumo dinheiro fácil, é só contar uma história e pedir — conta um adolescente de 15 anos.

A vida com crack tem em comum a idade escolar defasada — no Cepad, todos os internos repetiram de ano ao menos uma vez. E mais: famílias esfareladas, furtos e roubos, alguns a mão armada. Alguns já foram pequenos traficantes. Se envolveram no mundo do crime para comprar mais pedra.

— Caí quando estava roubando um portão de alumínio. A loucura tinha baixado e eu precisava de mais crack — conta um adolescente de 17 anos.

A esperança de recuperação está sempre por um fio. Pesquisas apontam que, entre os viciados, só 10% procuram atendimento. Desses, só 3% conseguem se livrar do vício.Pela forma de uso, o crack é mais potente do que qualquer outra droga e provoca dependência desde a primeira pedra. A droga é de fácil acesso, sem cheiro, de efeito imediato e aprisiona pacientes e seus familiares.
O baixo custo da pedra – em torno de R$ 5 – revela-se ilusório. Empurrado para o precipício da fissura, o dependente precisa fumar 20, 30 vezes por dia. Desfaz-se de todos os bens, furta de familiares e amigos e, por fim, começa a cometer crimes.

O que é?
A pedra de crack é produzida com a mistura de cocaína e bicarbonato de sódio ou amônia. Sua forma sólida permite que seja fumada.

Como é o uso?
O usuário queima a pedra de crack em cachimbo e aspira a fumaça. O crack também é misturado a cigarros de maconha, chamados de piticos (mesclado).



O efeito
O crack chega ao cérebro em oito a 12 segundos e provoca intensa euforia e autoconfiança. Essa sensação persiste por cinco a 10 minutos. Para comparar: ao ser cheirada, a cocaína em pó leva de 10 a 15 minutos para começar a fazer efeito.

A dependência
A fumaça do crack atinge rapidamente o pulmão, entra na corrente sanguínea e chega ao cérebro. É a forma de uso, não a composição, que torna a pedra mais potente.

Os efeitos do crack no organismo
Forma menos pura da cocaína, o crack tem um poder infinitamente maior de gerar dependência, pois a fumaça chega ao cérebro com velocidade e potência extremas. Ao prazer intenso e efêmero, segue-se a urgência da repetição. Além de se tornarem alvo de doenças pulmonares e circulatórias que podem levar à morte, os usuários se expõem à violência e a situações de perigo que também podem matá-lo.



Consequências para a saúde

Intoxicação pelo metal
O usuário aquece a lata de refrigerante para inalar o crack. Além do vapor da droga, ele aspira o alumínio, que se desprende com facilidade da lata aquecida. O metal se espalha pela corrente sanguínea provocando danos ao cérebro, aos pulmões, rins e ossos.

Fome e sono
O organismo passa a funcionar em função da droga. O dependente quase não come ou dorme. Ocorre um processo rápido de emagrecimento. Os casos de desnutrição são comuns. A dependência também se reflete em ausência de hábitos básicos de higiene e cuidados com a aparência.

Pulmões
A fumaça do crack promove lesão nos pulmões, levando a disfunções. Como já há um processo de emagrecimento, os dependentes ficam vulneráveis a doenças como pneumonia e tuberculose. Também há evidências de que o crack causa problemas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar e dores fortes no peito.

Coração
A liberação de dopamina faz o usuário de crack ficar mais agitado, o que leva a aumento da presença de adrenalina no organismo. A consequência é o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Problemas cardiovasculares, como infarto, podem ocorrer.

Ossos e músculos
O uso crônico da droga pode levar à degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.

Sistema neurológico

Oscilações de humor: o crack provoca lesões no cérebro, causando perda de função de neurônios. Isso resulta em deficiências de memória e de concentração, oscilações de humor, baixo limite para frustração e dificuldade de ter relacionamentos afetivos. O tratamento permite reverter parte dos danos, mas às vezes o quadro é irreversível.
Prejuízo cognitivo: pode ser grave e rápido. Há casos de pacientes com seis meses de dependência que apresentavam QI equivalente a 100, dentro da média. Num teste refeito um ano depois, o QI havia baixado para 80.
Doenças psiquiátricas: em razão da ação no cérebro, quadros psiquiátricos mais graves também podem ocorrer, com psicoses, paranoia, alucinações e delírios.

Sexo
O desejo sexual diminui. Os homens têm dificuldade para conseguir ereção.
Há pesquisas que associam o uso do crack à maior suscetibilidade a doenças sexualmente transmissíveis, em razão do comportamento promíscuo que os usuários adotam.

Morte
Pacientes podem morrer de doenças cardiovasculares (derrame e infarto) e relacionadas ao enfraquecimento do organismo (tuberculose).
A causa mais comum de óbito é a exposição à violência e a situações de perigo, por causa do envolvimento com traficantes, por exemplo.










* Mais informações em www.cracknempensar.com.br

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